No 3ºepisódio da Rubrica Científica, Rute Veríssimo e Inês Mendes falam-nos sobre Absorção de metano pelas árvores e possível papel na redução do efeito de estufa.
Aproveita connosco estes minutos de conhecimento!
Scientific Junior Value, Generating Success!
Inês Mendes: Bom tarde, caros ouvintes. Sejam bem-vindos à Rubrica Científica, o podcast da Scientific Junior Value! Eu sou a Inês e no episódio de hoje temos como convidada Rute Veríssimo, membro do Departamento de Comunicação e Imagem. Bem-vinda, Rute.
Rute Veríssimo: Olá, Inês! É um gosto estar aqui, especialmente a falar de um tema tão intrigante como o de hoje.
Inês Mendes: Conta-nos tudo! Pelo que sei vamos falar sobre alterações climáticas.
Rute Veríssimo: Exatamente! Todos sabemos que as alterações climáticas são um tema super atual e que merece a preocupação de todos. Ora então, hoje estou aqui para falar mais especificamente sobre o efeito de estufa. Resumidamente, e para contextualizar todos os nossos ouvintes, a Terra recebe e emite energia. Parte da radiação solar é absorvida pela Terra, sendo a restante refletida para o exterior. No entanto, parte da energia refletida é retida pela atmosfera, gerando o conhecido efeito de estufa.
Inês Mendes: mas esse fenómeno é essencial para a existência da vida na Terra, certo? Devido à manutenção da temperatura na superfície terrestre?
Rute Veríssimo: Exatamente. Mas há imensos anos que se instaurou o problema da sua intensificação.
Inês Mendes: Devido ao aumento de atividades humanas, como o uso de combustíveis fósseis, agricultura e pecuária intensivas, assim como desperdício de recursos.
Rute Veríssimo: Na origem deste problema encontra-se o aumento dos gases de efeito de estufa na atmosfera, especialmente o dióxido de carbono, seguindo-se o metano. Este último, apesar de ser menos abundante na atmosfera por ser mais facilmente oxidado, apresenta muito maior capacidade de reter o calor na atmosfera, o que é preocupante.
Inês Mendes: Sem dúvida! Mas então, todos sabemos do papel que as plantas, e as árvores, apresentam na diminuição do dióxido de carbono da atmosfera. Não existe alguma relação destes seres vivos com o metano?
Rute Veríssimo: Ora aí está a questão do episódio de hoje! A relação da libertação ou captação de metano pelas plantas tem sido estudada durante décadas, mas lacunas no conhecimento continuam presentes. Recentemente, um estudo publicado na revista científica Nature detetou a captação de metano em ramos e tronco de árvores, desde regiões tropicais, a zonas temperadas, bem como zonas boreais.
Inês Mendes: Isto é um enorme avanço no conhecimento do que se sabe hoje acerca da captação de metano na natureza! Isto porque o metano é removido da atmosfera maioritariamente pela sua reação com radicais, ou em parte por organismos metanotróficos, que habitam especialmente no solo.
Rute Veríssimo: Para além disso, pouco se sabe também sobre a captação de metano pelas árvores, sendo proposto em estudos anteriores a maior emissão por estes organismos. Esta captação aparece associada à presença de organismos metanogénicos nos ramos e folhagem, ou ainda pelo transporte de metano proveniente do solo até às extremidades das árvores, sendo assim libertado.
Inês Mendes: Então o que avaliou o estudo?
Rute Veríssimo: O estudo realizado por Gauci e pelos seus colegas avaliou o fluxo de metano em diferentes espécies de árvores e em diferentes latitudes, com testes em florestas da Amazónia, Reino Unido e Suécia. Observaram, então, que as zonas mais baixas das árvores, abaixo de 1,3 metros, apresentavam maior teor de metano libertado, enquanto que até aos 2 metros houve maior captação de metano.
Inês Mendes: Estes valores podem ainda ser justificados por um possível aumento do número de organismos metanotróficos localizados na madeira das zonas mais altas das árvores, através de avaliação de isótopos de carbono presentes no ar e no interior das árvores.
Rute Veríssimo: E ainda se detetou uma relação direta entre o aumento da temperatura e da concentração de metano com aumento da captação deste gás pelas superfícies das árvores.
Inês Mendes: Ou seja, alterações no clima e no ambiente poderão ter influência no processo de captação de metano pelas diversas espécies de árvores.
Rute Veríssimo: Exatamente. Este estudo pode ser complementado com análises em zonas diferentes das aqui estudadas, como savanas, para demonstrar se, de facto, este fenómeno é universal. No entanto, o estudo aqui referido demonstra-se um passo essencial na descoberta da relação entre as árvores, o metano e o seu impacto nas alterações climáticas.
Inês Mendes: Sabes Rute, existe um documentário muito engraçado na Netflix, que aborda exatamente este tema da captação de metano por microorganismos presentes na microbiota das plantas.
Rute Veríssimo: A sério? Tenho de por na minha lista para ver.
Inês Mendes: E alerta também para a preservação das áreas verdes, não só devido aos seus benefícios com a captação de dióxido de carbono, mas também de metano.
Rute Veríssimo: Sem dúvida, mais uma razão para preservar o meio ambiente e fazer o que está ao nosso alcance para evitar a sua destruição.
Inês Mendes: Chegamos, assim, ao fim de mais um episódio da Rubrica Científica! Muito obrigado, Rute, pela tua participação no nosso podcast e por nos apresentares um tema tão relevante.
Rute Veríssimo: Ora essa, o prazer foi meu, Inês. Espero que os nossos ouvintes tenham gostado!
Inês Mendes: Obrigado a todos por estarem connosco e não percam o próximo episódio da Rubrica Científica! Até lá!
Notícia Nature: Forests don’t just absorb CO2 — they also take up methane
Artigo: Global atmospheric methane uptake by upland tree woody surfaces
