No 4º episódio da Rubrica Científica, Ana Moreira e João Cordeiro falam-nos sobre a possiblidade das Células estaminais reverterem a diabetes em mulheres.
Aproveita connosco estes minutos de conhecimento!
Scientific Junior Value, Generating Success!
João Cordeiro: Bom dia, caros ouvintes. Sejam bem-vindos à Rubrica Científica, o podcast da Scientific Junior Value! Eu sou o João Cordeiro e no episódio de hoje temos como convidada a Ana Moreira, membro do Departamento de Relações Científicas. Bem-vinda Ana.
Ana Moreira: Olá, João! É um prazer estar aqui para discutir um tema tão fascinante no mundo da ciência, particularmente no que toca ao tratamento da diabetes.
João Cordeiro: Goza! Também viste a última notícia da Nature? fala sobre como as células estaminais podem desempenhar um papel fundamental na terapia da diabetes tipo 1?
Ana Moreira: Isso mesmo! Basicamente, um estudo realizado na China que saiu no mês passado, demonstrou que o transplante de células estaminais pode conseguir reverter a diabetes tipo 1 numa mulher de 25 anos com esta doença.
João Cordeiro: Ah isso parece bastante interessante! Referiste que o estudo assenta numa paciente com diabetes tipo 1, em que consiste esta doença?
Ana Moreira: Essencialmente, a diabetes é uma condição patológica na qual o corpo do doente fica incapacitado de armazenar glicose, o que leva ao aumento dos níveis deste açúcar no sangue. Existem dois tipos: o tipo 1 e o tipo 2. No caso do tipo 1, que afeta cerca de 8 milhões de pessoas em todo o mundo, este distingue-se do tipo 2 por ser uma doença autoimune, uma vez que o sistema imunitário do doente ataca e destrói as células beta pancreáticas produtoras de insulina, a hormona responsável pelo armazenamento da glicose dentro das células. Assim, já viste, os doentes tem de tomar insulina todos os dias para regularem os seus níveis de açúcar.
João Cordeiro: Faz sentido, mas não existem terapias alternativas para combater a falta de insulina, ao invés de tomarem doses diárias desta hormona?
Ana Moreira: Atualmente, os diabéticos podem ser submetidos a transplante dos ilhéus de Langerhans, onde se localizam as células beta que segregam insulina, no entanto, o número de dadores é insuficiente e, além disso, os doentes necessitam de tomar medicamentos imunossupressores para o corpo não rejeitar as células dadoras. Desta forma, os autores do estudo tentaram implementar uma terapia inovadora utilizando células estaminais para ultrapassar estas barreiras.
João Cordeiro: E de que forma é que essas células são úteis para desenvolver novos tratamentos?
Ana Moreira: As células estaminais são células capazes de se autorrenovar e de se diferenciarem em várias linhagens celulares, o que no caso da diabetes é extremamente útil para originar tecido pancreático in vitro, ou seja, em ambiente laboratorial.
João Cordeiro: Isso parece animador! No entanto, como se obtêm estas células? É possível recolhê-las diretamente da paciente?
Ana Moreira: Estás num bom caminho. Os investigadores recolheram tecido da própria paciente com diabetes tipo 1 e reprogramaram quimicamente as células extraídas para que permanecessem num estado pluripotente, no qual as células se podem diferenciar em qual tipo celular, ou seja, torná-las células estaminais. Basicamente, injetaram nas células da paciente um cocktail de moléculas para as tornar células estaminais pluripotentes induzidas.
João Cordeiro: Então se bem entendi o próximo passo foi transformar as células pluripotentes em células pancreáticas?
Ana Moreira: Certíssimo! A partir desta metodologia conseguiram gerar os ilhéus de Langerhans, primeiramente em ratinhos, e depois em humanos, levando a que a paciente fosse transplantada com os ilhéus no abdómen.
João Cordeiro: Com isso, pode-se então dizer que uma das vantagens desta terapia é não haver necessidade de administrar imunossupressores aos pacientes.
Ana Moreira: Exatamente! Como as células são obtidas a partir do próprio paciente para transplante, a probabilidade de rejeição das mesmas é muito mais baixa.
João Cordeiro: E os resultados obtidos para a paciente diabética foram promissores?
Ana Moreira: Muito! Passados dois meses e meio a paciente produzia insulina suficiente sem precisar de dar injeções desta hormona e também deixou de ter quebras nos níveis de glicose no sangue. No entanto, os investigadores afirmam que ainda é prematuro concluir que a paciente está curada, pois é necessário esperar mais alguns anos para ver se as células transplantadas continuam a produzir insulina. Além disso, é crucial o alargamento desta metodologia revolucionária a mais doentes com diabetes tipo 1 para serem obtidos mais dados sobre esta terapia.
João Cordeiro: E tu o que achas? será que daqui a alguns anos vamos presenciar a utilização deste tratamento como cura para a diabetes?
Ana Moreira: Por agora, ainda existem bastantes dúvidas quanto a isso, porque apesar desta terapia apresentar vantagens como o facto de os doentes não necessitarem de imunossupressores, os investigadores afirmam que os procedimentos para a utilização das células do próprio paciente para o transplante são difíceis de ampliar e de comercializar. Por isso, para contornar este obstáculo têm sido realizados vários estudos no sentido de testar a utilização de células estaminais de dadores para originar as células pancreáticas.
João Cordeiro: Bem, certamente irão ser realizados mais estudos acerca desta nova terapia que poderá revolucionar o tratamento da diabetes.
Ana Moreira: Sem dúvida, esperemos que a investigação continue para proporcionar uma qualidade de vida superior para estes pacientes.
João Cordeiro: Chegamos, assim, ao fim de mais um episódio da Rubrica Científica! Muito obrigado Ana pela tua participação no nosso podcast e por nos apresentares um tema tão interessante.
Ana Moreira: Ora essa, o prazer foi meu, João. Espero que os nossos ouvintes tenham gostado!
João Cordeiro: Obrigado a todos por estarem connosco e não percam o próximo episódio da Rubrica Científica! Até lá!
