No 5º episódio da Rubrica Científica, o João e a Sofia falam-nos sobre derivados de clorofila promissores no tratamento do cancro.
Aproveita connosco estes minutos de conhecimento!
Scientific Junior Value, Generating Success!
João Almeida: Bom dia, caros ouvintes. Sejam bem-vindos à Rubrica Científica, o podcast da Scientific Junior Value. Eu sou o João Almeida e no episódio de hoje temos como convidada a Sofia Carvão, membro do Departamento de Relações Científicas, que nos traz as mais recentes descobertas no tratamento do cancro, feitas por um grupo de investigadores da nossa Universidade. Bem-vinda, Sofia.
Sofia Carvão: Olá, João! Muito obrigado pelo convite. Trago muito boas notícias. Recentemente, um grupo de investigação multidisciplinar da UA descobriu novos agentes terapêuticos promissores no tratamento de vários tipos de cancro, como o da mama e do pâncreas, não é fantástico?
João Almeida: A sério? São notícias fantásticas, sem dúvida. Conta-nos, queremos saber tudinho!
Sofia Carvão: Claro que sim! Então, os investigadores desenvolveram e caracterizaram novos derivados de clorofila que se demonstraram muito promissores em ensaios experimentais de terapia fotodinâmica, tanto em cancro da mama triplo negativo, como em outros tipos de cancro, incluindo o cancro do pâncreas. Até já foi submetido um pedido de patente!
João Almeida: Isso é excelente! Mas nunca ouvi falar de triplo negativo, há diferentes tipos de cancro da mama, é isso?
Sofia Carvão: Sim, o cancro da mama é uma doença muito heterogénea. Basicamente, existem três subtipos, de acordo com a expressão de certos recetores de hormonas. O triplo negativo, em particular, é especialmente agressivo, porque não expressa nenhum dos recetores e ainda não foram identificadas terapias direcionadas a esse subtipo. Mas o cancro pancreático, que já deves ter ouvido falar, também é desafiante, infelizmente, porque é difícil de detetar e diagnosticar precocemente, e apresenta uma resposta limitada às terapias atuais. Por isso, os investigadores têm procurado novas abordagens de tratamento do cancro, tendo em atenção fatores como a eficácia e a sustentabilidade.
João Almeida: Pois, encontrar uma abordagem que conjugue ambos deve ser difícil. Qual foi a solução promissora que os investigadores encontraram?
Sofia Carvão: Sim, mas parecem ter descoberto algo interessante e muito promissor para o futuro do tratamento do cancro. Basicamente, desenvolveram compostos derivados de clorofilas, extraídos de fontes naturais, e testaram a sua eficácia na eliminação de células tumorais, em ensaios experimentais de terapia fotodinâmica para ambos os cancros que falávamos há pouco.
João Almeida: Nunca ouvi falar dessa terapia, mas pelo nome parece-me estar relacionado com a luz, certo?
Sofia Carvão: É isso mesmo! A terapia fotodinâmica utiliza compostos que são ativados quando expostos à luz, chamados agentes fotossensibilizadores, para eliminar as células tumorais. Quando os fotossensibilizadores são absorvidos por estas células e expostos a uma luz com um comprimento de onda específico na presença de oxigénio, desencadeiam um efeito biológico que leva à formação de espécies reativas de oxigénio, que são substâncias oxidantes extremamente reativas que provocam a morte das células tumorais. Sabendo isto, o grupo desenvolveu novos derivados de clorofila, um fotossensibilizador de origem natural, possibilitando a utilização sustentável de recursos disponíveis. Para além disso, estes compostos absorvem radiação na região do vermelho do espectro de luz visível, penetrando melhor os tecidos e facilitando a ativação dos derivados de clorofila absorvidos pelas células tumorais.
João Almeida: Muito interessante. Mas deixaste-me aqui com uma dúvida. Se os compostos ao serem iluminados matam as células tumorais, não vão atacar também as outras células do nosso corpo?
Sofia Carvão: É uma excelente questão! Também me tinha perguntado sobre isso, mas de acordo com o que pesquisei, os fotossensibilizadores tendem a acumular-se apenas nas células tumorais, por terem características diferentes das saudáveis. Por isso, uma das grandes vantagens desta terapia é eliminar eficazmente as células tumorais, sendo minimamente invasivo, já que a sua atuação circunscreve-se apenas à área iluminada. Quando foram testados, estes compostos apresentaram ainda uma toxicidade muito baixa na ausência de luz e demonstraram-se altamente eficazes quando ativados sob condições controladas de iluminação.
João Almeida: Boa, isso é excelente e realmente parece promissor! E, na tua opinião, a terapia fotodinâmica poderá ser amplamente adotada na prática clínica no futuro?
Sofia Carvão: À luz dos resultados obtidos, a solução apontada pelos investigadores poderá tornar-se uma alternativa viável para quando outras terapias falham, especialmente em casos de resistência aos tratamentos convencionais, como a quimio ou radioterapia. No entanto, serão necessários mais estudos (tanto em células como em animais de laboratório) e ensaios clínicos em humanos, que comprovem a eficácia dessa terapia no cancro triplo negativo e no do pâncreas.
João Almeida: E também seria incrível se essa abordagem se estendesse a outros tipos de cancros, não achas?
Sofia Carvão: Sem dúvida, e é exatamente essa a expetativa dos investigadores, que possa ser estendida futuramente a outros tipos de cancros igualmente agressivos, como o cancro do pulmão. É por isso que a investigação vai continuar, para ser possível renovar a esperança dos milhares de doentes oncológicos no mundo, com terapias cada vez mais específicas e direcionadas.
João Almeida: Que incrível! É para divulgar a qualidade da ciência em Portugal e no resto do mundo que trazemos a Rubrica Científica! Assim chegamos ao fim de mais um episódio, muito obrigado, Sofia, pela tua participação e por nos dares a conhecer esta abordagem inovadora. Aos nossos ouvintes, esperamos que tenham gostado e até ao próximo episódio!
