No 9º episódio da Rubrica Científica, a Mariana e a Eduarda falam-nos sobre a invenção de um spray fluorescente não toxico que torna as impressões digitais visíveis numa cena de crime em cerca de 10 segundos.
Aproveita connosco estes minutos de conhecimento!
Scientific Junior Value, Generating Success!
Eduarda Rocha: Bem-vindos a mais uma “Rubrica Científica”, o podcast da Scientific Junior Value! Neste episódio, eu, Eduarda, e o nosso convidado, Mariana Macedo, abrimos uma das muitas portas da investigação criminal. Olá, Mariana! Será que os nossos ouvintes já se perguntaram como são colhidas as impressões digitais numa cena de crime?
Mariana Macedo: Olá, Eduarda. As mentes mais curiosas poderão já saber que há diferentes tipos de evidências que são coletadas numa cena de crime pela investigação criminal. Embora as impressões digitais sejam, usualmente, a forma mais rápida de identificar os autores de qualquer crime, o processo da sua recolha sempre apresentou desafios e é aí que os avanços técnico-científicos são essenciais!
Eduarda Rocha: A sério? Então explica-nos lá isso melhor…
Mariana Macedo: Em determinados materiais ou superfícies, as impressões digitais podem durar anos, enquanto outras são temporárias, colocando mais problemas à investigação. Estas últimas, as impressões digitais latentes ou LFPs, são invisíveis a olho nu e transferidas para o objeto pelo suor ou óleo da própria pele, deteriorando-se muito rapidamente.
Eduarda Rocha: Mas nós sabemos pelos filmes que sempre houve a necessidade e deteção das impressões digitais para a investigação criminal. Por que estamos a falar disso novamente? Os métodos forenses tradicionais já não são suficientes?
Mariana Macedo: Exatamente, Eduarda. Os métodos tradicionais apresentam vários problemas: requerem equipamentos caros que, ainda por cima, não são portáteis, impossibilitando a recolha rápida das LFPs e, consequentemente, fazendo com que muitas amostras se percam no seu processamento. Para além disso, muitos métodos utilizam pós tóxicos que podem comprometer a saúde do utilizador e danificar a amostra, ou solventes petroquímico, que prejudicam o meio ambiente. Posto isto, era essencial encontrar uma opção mais prática, transportável e sustentável.
Eduarda Rocha: E encontraram?
Mariana Macedo: Sim, claro. A ciência pode tardar, mas não falha! Os investigadores da Universidade Normal de Xangai, juntamente com os da Universidade de Bath do Reino Unido, prontificaram-se a responder a este problema recorrendo a estudos anteriores sobre a Green fluorescent protein (GFP), focando-se no seu cromóforo, a imidazolinona.
Eduarda Rocha: Já ouvi falar sobre esta proteína! Não é aquela produzida por uma alforreca que emite bioluminescência verde? Ah e a sua descoberta não valeu um prémio Nobel aos investigadores responsáveis? Lembro-me de ler algo sobre isso…
Mariana Macedo: Não estás a mentir, Eduarda. A GFP é produzida pela alforreca Aequorea victoria e, desde a sua descoberta, tem sido usada como biomarcador em diversas áreas, como a microbiologia, fisiologia e biotecnologia. Assim sendo, estes investigadores sabiam que esta proteína emitia luz através do seu cromóforo.
Eduarda Rocha: Croloforo? Cromocoro? Ahmm, queres explicar o que isso é aos nossos ouvintes?
Mariana Macedo: Cromóforo, Eduarda. Um cromóforo é o conjunto de átomos de uma molécula responsável pela sua cor. No caso da GFP, temos a imidazolinona. E foi ao estudar este composto que os investigadores conseguiram desenvolver um novo método para a colheita das impressões digitais.
Eduarda Rocha: E que método é esse? Um novo equipamento super tecnológico?
Mariana Macedo: Não propriamente. A não ser que consideres um spray um grande equipamento tecnológico. Isso mesmo, estes cientistas criaram um spray de tinta solúvel em água, com baixa citotoxicidade e, mais importante, transportável para qualquer local de crime. E o melhor não sabes: as impressões digitais latentes são detetadas em apenas 10 segundos.
Eduarda Rocha: 10 segundos? Mas assim, este spray resolve os problemas dos métodos tradicionais. Então, se tem baixa toxicidade, não prejudica nem o utilizador, nem a amostra, nem o meio ambiente e sendo portátil e extremamente rápido, não se perde nenhuma evidência.
Mariana Macedo: Perfeito. Isto é revolucionário e ainda não falámos sobre o mecanismo de funcionamento. Este spray funciona com recurso a dois corantes – LFP-Amarelo e LFP-Vermelho – cuja estrutura central é baseada na imidazolinona, cromóforo da GFP. Estes corantes ligam-se seletivamente, através de sondas, às moléculas carregadas negativamente das impressões digitais, como os ácidos gordos e alguns aminoácidos. Esta ligação emite um brilho fluorescente, que pode ser visto sob uma luz azul.
Eduarda Rocha: Incrível, mas não ocorre nenhuma reação que possa danificar a amostra?
Mariana Macedo: Estes cientistas pensaram em tudo, Eduarda. Como os corantes são biologicamente compatíveis, isto é, foram construídos sem grupos piridina ou iões metálicos, compostos que podem resultar na contaminação da amostra de DNA, não interferem na análise subsequente de DNA das impressões digitais.
Eduarda Rocha: Realmente, Mariana, pensaram em tudo. Depois de tudo, aposto que até pensaram no modo de utilização!
Mariana Macedo: Pensaram mesmo. O spray é fino, evitando salpicos que poderiam danificar a amostra, e age rapidamente mesmo em superfícies ásperas, onde é mais difícil capturar impressões digitais.
Eduarda Rocha: Sendo assim, estes investigadores das Universidades Normal e de Bath criaram um sistema mais seguro, mais sustentável e que funciona mais rapidamente que as tecnologias existentes. Realmente revolucionaram a deteção de evidências em cenas de crime. Mas porque é que ainda não ouvimos falar sobre isso?
Mariana Macedo: Falta apenas a colaboração com empresas para disponibilizar estes corantes para a venda, diz o investigador principal, o Professor Chusen Huang, da Universidade Normal de Xangai. Não tarda nada, só usaremos estes corantes para detetar impressões digitais.
Eduarda Rocha: Foi realmente uma viagem emocionante pelo universo da investigação criminal. Obrigada, Mariana, pelo teu contributo para mais um episódio da “Rubrica Científica”. Eu, Eduarda, despeço-me por agora, mas fiquem atentos a mais episódios entusiasmantes do nosso podcast!
