À Conversa Com o Futuro – EP3

À Conversa Com o Futuro – EP3

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No 3º episódio de “À Conversa Com o Futuro”, a Ana Cristina Carvalho, conta-nos a sua experiência na Scientific, como membro da Direção da Júnior e as suas expectativas para o futuro e revela-nos mais acerca do Projeto em que têm trabalhado.

Scientific Junior Value, Generating Success!

  1. Passo a palavra à nossa mais recente convidada, Ana Carvalho, para uma pequena apresentação.

O meu nome é Ana Cristina estudei Biotecnologia e fui membro da Scientific no departamento de Relações Científicas (RC). Estive também na Direção Executiva como Vice- Presidente, no ano seguinte. Tenho, portanto, uma ligação bastante carinhosa com a Scientific, com todo o caminho que a Scientific fez e continua a fazer e que fará mais tarde.

  1. Em primeiro lugar, sabemos que tiraste a licenciatura em Biotecnologia, seguida do mestrado em Biotecnologia Industrial e Ambiental. Como podes descrever o teu percurso académico na Universidade de Aveiro? Biotecnologia foi a tua primeira opção? Correspondeu às tuas expectativas?

Sim, realmente Biotecnologia foi a minha primeira opção. Desde o secundário que queria cursos relacionados com Biotecnologia ou Bioquímica, por isso sempre estive mais focada nessa área. E, realmente, Aveiro foi a minha primeira opção, até porque sou do Porto e, na altura, não havia muita oferta de cursos de Biotecnologia na Universidade do Porto. Na altura, também tinha gostado bastante do programa curricular que Aveiro tinha oferecido, então foi só uma questão de me candidatar e acabei por entrar. Gostei bastante, tanto que depois segui para mestrado na mesma universidade.

  1. Dentro da Scientific, a Ana foi membro do Departamento de Relações Científicas e posteriormente, Vice-Presidente desta junior empresa. O que te motivou a candidatares-te à Scientific e que skills obtidas reconheces que te ajudaram no futuro?

Na altura, conheci a Scientific através de pessoas dentro dos cursos de Química, que faziam parte do Núcleo de Estudantes de Química e também da Scientific. Foi um pouco aquele “passa a palavra” e as redes sociais, e acabei por ficar interessada e investigar mais. Achei interessante porque era uma das poucas júnior iniciativas ou júnior empresas ligadas à área das ciências, que era onde mais me identificava, tendo em conta o meu percurso académico. Foi uma questão de querer explorar outra vertente para além da vertente puramente académica de cadeiras e testes.
Em relação à Scientific, acredito que ajuda bastante ter este tipo de experiências para desenvolver as tais ditas e muito conhecidas soft skills, que uma pessoa acaba por aprende, e para mim essas acabam por ser as principais vantagens de estar envolvido nesses projetos.

  1. Após a conclusão do teu mestrado, decidiste embarcar num ano de Erasmus na Espanha, em Villaviciosa, onde estagiaste no Instituto de Productos Lácteos de Asturias. Como foi a adaptação? Esta experiência era algo que querias muito realizar? Que aprendizagens levas para a tua vida pessoal e profissional?

Em primeiro lugar, fazer Erasmus era algo que desejava fazer há algum tempo. Existem duas modalidades de Erasmus: a de estudos e a de estágios. E eu preferi fazer a versão de estágio, porque assim já tinha acabado tudo o que tinha a ver com a universidade e então podia embarcar num outro projeto e concentrar-me mais na investigação e aprender outras técnicas.

Uma das opções disponíveis na altura era fazer estágio em Espanha, e era também um dos tópicos que estava mais interessada, mais ligado a Biologia Molecular e a algumas técnicas de genética que, no meu percurso, até com as teses de mestrado e de licenciatura, não tinha sido muito explorado a nível de laboratório e realmente gostava de aprender um bocadinho mais. Depois, foi só uma questão de contactar e o processo foi muito fácil. Estive lá praticamente um ano, que é o período máximo que permitem fazer o Erasmus. Em termos da experiência, foi absolutamente fantástica. Adorei estar lá, não só pela cidade em si, mas também pelo laboratório. Tive colegas espetaculares que estavam também a fazer o douturamento a até me ajudou a perceber o que eu poderia fazer no futuro. Inclusive, até tinha outra estudante portuguesa que estava lá a tirar o douturamento com o mesmo tipo de bolsa para a qual me tinha candidatado, por isso foi bastante interessante conhecer outras realidades. Tive também uma supervisora fantástica que me ajudava sempre em tudo, ensinava as técnicas de forma bastante amigável e calma, até a explicar os erros e como fazer melhor. E levo, realmente, uma experiência bastante incrível; algumas das técnicas que aprendi, utilizo agora no douturamento. Foi a minha primeira introdução prática à Biologia Molecular e só tenho boas recordações desse tempo em Erasmus.

  1. Há algum momento específico da tua jornada académica que consideras marcante ou transformador?

Creio que fazer Erasmus foi um pontapé de saída, para agora ir para fora, porque foi a minha experiência, primeiramente para fora da universidade de Aveiro e depois fora de Portugal. Foi também não só a nível académico, mas também a nível pessoal e poder ver como é viver noutro país e começar assim de forma mais facilmente. Acho que ter este tipo de experiências não só relacionadas com a escrita de uma tese ou a escrita de um relatório tiram um bocadinho aquele stress que uma pessoa tem sempre, para escrever qualquer coisa que vai ter uma nota final, que vai afetar depois a nota do curso e acho que realmente é uma ótima experiência e um momento marcante. 

  1. Agora, fora de Portugal, fazes parte da equipa de uma grande empresa de Biotecnologia, a NovoArc GmbH, sediada em Viena. Como chegaste aqui? Foi difícil a adaptação?

Sim, realmente está a ser uma boa experiência, bastante enriquecedora só pelo facto de estarmos também em comunidade uns com os outros. Uma vez que como disseste o projeto de doutoramento em que estou é um projeto financiado pelas bolsas Marie Curie, por isso é alocado a um grupo de estudantes de doutoramento que trabalham sobre um tópico e que no meu caso, chama-se Prohits. Este tem a ver com ver a influência dos proteomas dos diferentes organismos e a sua resposta a diferentes temperaturas. Na altura em que eu estava em Erasmus e à procura de outras coisas que havia de fazer uma vez que terminasse, tinha visto este projeto de doutoramento e realmente na empresa em que estou, trabalham com fermentações, reatores, o que também já tinha feito na minha tese de mestrado. Foi juntar o útil ao agradável, o projeto era interessante já utilizava alguns conhecimentos que já tinha do mestrado, outros que também adquiri no Eramus e o facto de também ser um projeto financiada pela União Europeia acaba por ter uma bolsa mais apelativa comparando com outras bolsas. Por isso, foi realmente uma boa opção e creio que estes tipos de doutoramento ajudam bastante no desenvolvimento pessoal mais para além só do desenvolvimento académico da pessoa. Em termos de adaptação creio que ainda estou no processo porque comecei há relativamente pouco tempo, mas tem sido uma experiência boa. 

  1. Tens alguma expectativa para o futuro trabalhando no projeto Prohits? 

Sim, para já, ainda estou mesmo no início do doutoramento, por isso ainda tenho pelo menos mais dois anos pela frente, mas sim, gosto bastante da área onde estou e realmente gostava de poder continuar. Não necessariamente na mesma empresa, mas a trabalhar também para o mesmo tópico e continuar a fazer fermentações com microrganismos que sejam interessantes pelas diversas razões, tendo em conta os produtos que podemos obter. E creio que sim, são bastante interessantes este tipo de coisas e realmente a biotecnologia acaba por ser uma área tão versátil que uma pessoa depois pode enredar por onde quiser, tendo em conta os seus interesses, e acaba vir ser até abrangente. 

  1. Se pudesses voltar atrás, trocavas alguma coisa do que tinhas feito, ou embarcavas noutra direção?

Não, eu creio que, por um lado, o presente que hoje sou é um bocado o resultado de todas as decisões que fiz e provavelmente se tivesse alterado uma dessas decisões, não estaria aqui a fazer este doutoramento, ou estaria a fazer outra coisa diferente. Mas estou bastante contente, acho que a licenciatura em biotecnologia é realmente interessante e o mestrado em si podia haver ali algumas coisas que podiam ter sido diferentes. Algumas escolhas de cadeiras, mas acaba por sempre ser dependente do que está no plano curricular na altura e dos professores que acabam por dar e se se encontram disponíveis ou não para dar certas cadeiras. 

  1. Sendo que a tua vida tem sido um sucesso, queres partilhar connosco como consegues conciliar os estudos, a investigação e os teus hobbies?

Para mim, o que funciona é criar rotinas. Por exemplo eu tocava trompete numa banda filarmónica e tínhamos sempre os nossos ensaios à sexta-feira. Depois na altura das férias íamos fazer as festas para as terrinhas, em que sempre havia coisas para fazer, e isso acabava por não implicar com os estudos porque é uma certa parte do dia e à sexta-feira à noite ninguém está a estudar praticamente. Creio que, dessa forma, é bom ter hobbies e acabar por criar essas rotinas; é uma questão de ver o que funciona para cada um. Além disso, ter também colegas que consigam ajudar durante o curso para as diferentes cadeiras, porque normalmente uma pessoa sozinha não consegue fazer nada. Muitas vezes tive colegas a ajudar-me, a ver também os problemas que existiam em algumas cadeiras e tentar resolvê-los, partilhar apontamentos e fazer testes dos anos anteriores. Isso sempre ajuda a criar esse tipo de rotinas, que acabam por mostrar-se ter bons resultados. No entanto dizer que ter bons resultados não é a única coisa que é importante, porque é bom ter uma boa nota no final do curso, mas não foi pelas notas que uma pessoa consegue ter isto ou aquilo. Principalmente quando se vai para o mercado de trabalho, as notas não são o mais importante; as pessoas querem saber mais do tipo de experiências e de técnicas que podes trazer novo para outro sítio, e não propriamente as notas que tiveste num exame teórico. 

  1. No teu percurso como é que lidaste com a pressão de alcançar bons resultados? 

Eu sempre fui bastante atenta às notas que tinha, de estudar e tentar ter os melhores resultados e, realmente, sim, são importantes, mas o que interessa mesmo é o que fica retido depois. A maior parte das vezes, uma pessoa vai esquecer, mas mais tarde, ao utilizar num futuro outras técnicas ou um conteúdo semelhante, relembra, e depois ainda tem alguns livros que sejam sobre esses tópicos a que pode voltar. É mais para ter as bases principais, para a seguir se poder consultar e aprofundar esses temas, do que propriamente ser só uma questão de uma nota ou outra, ser alta. Mas eu realmente também passei pelo mesmo, também gostava de ter boas notas, ir a recurso às vezes, se fosse preciso melhorar uma nota, por isso também estou agora a falar no passado. Então, sim, também compreendo e esforçava-me para ter isso, mas realmente não é o mais importante. 

  1. Que conselho é que tu darias a alguém que estivesse interessado em entrar no campo da biotecnologia, que tu gostavas que quando entraste, te tivessem dado?  

Eu acho que, para alguém que começa a entrar no campo da biotecnologia, como por exemplo na licenciatura- e creio que a Universidade de Aveiro até faz um bom trabalho nesse aspeto- é explorar as diferentes áreas existentes nesse ramo. Ter em conta as aplicações que podem ter e algumas técnicas que uma pessoa acaba também por adquirir na licenciatura, mas também por explorar por si próprio, o que é que existe e que métodos são usados. Posteriormente, as coisas que uma pessoa começa a achar mais interessante até acaba por fazer o projeto da licenciatura já nessa área, porque depois tem-se pouco tempo e consegue ver, se realmente é algo que essa pessoa gosta ou não. Pode querer mudar e perceber que que afinal não era isso que estava à espera e, mesmo que continue para o mestrado em biotecnologia, tem diferentes áreas; e até falo da área de biotecnologia industrial. Tinha bastantes cadeiras que eram similares às de outros ramos da biotecnologia que o mestrado também oferecia, por isso nenhuma decisão é “settingstone”, dá sempre para trocar e para explorar outras facetas. E, principalmente se der para fazer estágios. Eu, na altura, só fiz o projeto de licenciatura, de mestrado e depois o Erasmus, mas dá para fazer Erasmus no final da licenciatura, ou até mesmo Erasmus de estudos noutras universidades. Depois até podem conhecer o que é que essas universidades fazem, se tiverem algum tópico que também já estejam interessados e começar a explorar. Contudo, não estar tão cingido só às cadeiras e aos tópicos que são dados, porque realmente eles são importantes, mas acho que falta um bocadinho de ver as coisas em contexto que as aplicações podem ter. Como é que o tópico dessa cadeira se pode relacionar com o tópico da outra cadeira para resolver uma questão e começar a explorar por aí, basicamente. 

  1. Como vês o futuro em biotecnologia industrial e ambiental e alguma tendência e inovação? 

Esta pergunta está bastante envolvida no projeto em que estou, porque fala-se muito das bactérias, das leveduras e do processo das fermentações, porque têm bastantes produtos interessantes. Como já se ouve falar de alguns produtos que são “Bio”, que são feitos a partir da biotecnologia. Nós estamos a trabalhar com diferentes microrganismos, como bactérias, mas também temos um foco no outro domínio da vida, que são as arqueias. E realmente acabam por ser bastante interessantes, porque têm semelhanças com bactérias, mas também com as células eucarióticas e há ali uma junção das duas coisas que as tornam cativantes. Por outro lado, também respondendo à pergunta da tendência e da inovação estamos também a focar-nos em organismos que são termofílicos ou extremofílicos, ou seja, que vivem em ambientes com temperaturas bastante elevadas. Isso pode ser uma coisa bastante interessante para as indústrias biotecnológicas, porque trazer esse tipo de organismos acaba por ter algumas vantagens do que trabalhar com os organismos mesofílicos, ou seja, temperaturas mais de 37°C. Por exemplo, as contaminações, que é uma coisa que todo o dia, quem trabalha com o microrganismo dá sempre com uma contaminação ou outra. Esses organismos, como normalmente vivem bastante bem a temperaturas altas, acabam por ser bastante difíceis de ter contaminações e de trabalhar com certos reagentes e insolubilidades dos mesmos nos meios. Depois, também custos de arrefecimento acabam por diminuir e, realmente, é uma vertente da indústria biotecnológica que não conhecia até ter visto este projeto de doutoramento, que tinha a chave interessante. E, como tinha feito o mestrado em biotecnologia numa empresa, também queria continuar na mesma porque não me revejo muito a estar na universidade para o resto da minha vida. De seguida, saí de uma empresa, fiz essas técnicas no Instituto e depois iniciei outra vez noutra empresa, e gosto mais dessa faceta. 

  1. Sentes que vais ter oportunidade para trabalhar nesta área em Portugal? Ou achas que vais preferir trabalhar no estrangeiro ?

Eu acho que, em Portugal, está um bocadinho difícil em termos de desemprego, principalmente em empregos que requerem mão de obra especializada. Nas áreas das ciências, acaba por ser tudo à base de médias e pequenas empresas. Onde eu estou também é uma pequena empresa, mas noto que estas pequenas e médias empresas fora de Portugal acabam por ter outro tipo de financiamento e outro tipo de comunicação, até com a universidade. De momento estou a fazer doutoramento na empresa, mas também estou associada à universidade e é bom perceber que eles têm essa interconexão aqui, já em Portugal, sinto que isso não acontece tanto. Até, na altura que estava a fazer o mestrado tive alguns problemas de comunicação entre as duas supervisoras que tive, e foi um bocado stressante na altura de entregar a tese, porque havia ali perspetivas diferentes. Agora, aqui em Viena espero que não aconteça o mesmo, tenho reuniões de duas em duas semanas com os meus dois supervisores, e como estou neste projeto tenho uma buddy que está a fazer um programa mais computacional, com bioinformática. A certa altura, os nossos projetos vão-se completar e, por isso, temos reuniões os quatro de duas em duas semanas para dar updates e falar sobre os projetos.

Acho que, numa visão geral, as empresas de base biotecnológica acabam por ser pequenas e a maior parte são divisões de universidades que depois querem ganhar autonomia e ter um modelo de negócio, continuando a fazer investigação mesmo, e não só focando na parte de comercialização do produto, o que costuma ser mais difícil, portanto não sei se em Portugal teria algo semelhante. Se houver oportunidades em Portugal, são provavelmente cargos bastante séniores e, para entrar num nível mais baixo, acaba-se por entrar num nível mesmo baixo e depois é difícil subir. Portanto, para já, ainda não tenho a certeza mas estou contente onde estou.

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