No 4º episódio de “À Conversa Com o Futuro”, a Carolina Silva conta-nos a sua experiência como Júnior Empresária até alcançar o cargo de presidente da JE Portgual, o impacto que este percurso teve a nível pessoal e profissional e as suas expectativas para de futuro.
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Hoje temos connosco a Carolina Silva, Ex-Presidente da JE Portugal, que nos vai dar a conhecer um pouco acerca do seu percurso académico e profissional. Carolina, se quiseres podes começar por nos falar um pouco sobre ti.
O meu nome é Carolina Silva, tenho 22 anos e sou de Coimbra. Tirei a minha licenciatura em Gestão de Informação na Universidade Nova IMS, e depois fiz um Double-Degree em Gestão Internacional, com especialização em Estratégia e Consultoria, na Universidade Católica. Atualmente estou no segundo ano de Mestrado em Oslo, na Noruega, a fazer a minha especialização em Estratégia.
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O que gostas de fazer nos teus tempos livres?
Antes de entrar na faculdade, costumava dizer que gostava de passar os meus tempos livres em casa, não me envolvia em muitas atividades, clubes ou desportos. Experimentei alguns, como canoagem e dança. Também adorava ler e considerava-me uma pessoa mais sossegada. A partir do momento em que entrei na universidade, descobri o mundo do associativismo e os meus hobbies passaram a estar ligados a essa vertente. Embora algumas pessoas vejam como trabalho, sempre considerei como hobbies. Era a minha distração principal e o que eu mais gostava de fazer. Estive ainda na Associação de Estudantes, antes de entrar para a Junior Data Consulting. Fazia parte do Departamento Recreativo, onde organizávamos diferentes atividades como convívios, workshops e feiras de emprego. Depois juntei-me à Júnior Empresa, onde comecei como membro de Recursos Humanos. A partir daí, foi um caminho que parou apenas três anos depois. Estive no Departamento de Expansão e Parcerias, depois fui Diretora de Recursos Humanos durante um ano, passando a Presidente da Júnior no ano seguinte. No fim de três anos de associativismo, não quis parar por aí, e candidatei-me a Presidente da JE Portugal, onde fiquei um ano. Cem por cento do meu tempo era a JE Portugal, sendo sempre o que mais gostei de fazer: representar os estudantes, participar em fóruns, discussões, e todas as atividades do Conselho Nacional de Juventude.
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Se tivesses um superpoder, qual seria?
Eu penso nisso muitas vezes, porque na minha vida normal penso “Se pudesse fazer isto de tal maneira, seria mais engraçado”. Depois de tanto pensar, seria com certeza o teletransporte, porque poupava imenso tempo, poderia estar em todo o lado ao mesmo tempo e quando quisesse. E também porque os meus amigos, principalmente agora, estão um pouco dispersos não só por Portugal, mas também por fora. Portanto, conseguia conciliar esta parte e estar com os meus amigos e família muito mais rapidamente.
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Conta-nos como foi o teu percurso académico, nomeadamente a área de estudos. Já deste a entender que tens um percurso bastante variado, por isso se quiseres podes desenvolver um pouco mais esse assunto.
No Ensino Secundário, estive em Ciências e Tecnologias, com Biologia e Físico-Química. Não tive Geometria Descritiva nem nenhuma outra opção, por isso era a “típica aluna de Ciências”. Na altura das candidaturas para a universidade, não sabia bem o que é que queria. Tinha muitas áreas de interesse, e depois descobri Gestão de Informação e a área de Ciência de Dados e a Universidade Nova IMS. Candidatei-me, foi a minha primeira opção, e entrei. Estive três anos da Licenciatura em Gestão de Informação. A minha área de estudos junta negócios com uma parte um pouco mais analítica, e tirarmos valor aos dados. Era também o mote da própria faculdade: “Turn data into value“.
Eu adorei a Licenciatura, gostei muito da faculdade e de tudo o que estudava, mas senti no final dos três anos que talvez fosse muito analítico e, embora eu gostasse, achava que existia uma vertente que também gostava de explorar um pouco mais, como na área de Recursos Humanos, Gestão de Pessoas, e Gestão em si. Portanto, decidi fazer Mestrado em Gestão. Na altura, quando me candidatei ao Mestrado, candidatei-me a Mestrado Internacional e era obrigada a ir estudar para fora ou a fazer um estágio internacional. Já sabia que queria ir estudar para fora por pelo menos um semestre porque não tinha feito Erasmus na Licenciatura, por isso foi perfeito. Candidatei-me ao Mestrado Internacional, e inicialmente a minha especialização não era em Estratégia e Consultoria, mas sim em Sustainable Finance, mas estive uma semana e troquei automaticamente de especialização porque percebi que finanças não era definitivamente para mim. Troquei para a especialização em Estratégia e Consultoria. Este é completamente diferente da área de Licenciatura, sendo a Licenciatura muito mais analítica e objetiva, com uma visão de negócio completamente orientada à extração de informação e como adicionar esta camada de conhecimento com dados.
O Mestrado é business por completo, muito mais teórico, explora todas as áreas de negócio, e tive também imensas cadeiras com marketing. A especialização de Estratégia e Consultoria é mais corporate, com cadeiras mais intensas de Gestão, mas continua a ser também muito teórico: quais são as frameworks, como é que se trabalha e como funcionam as diferentes empresas, como é o mundo internacional, etc. Academicamente este é o meu percurso que irei terminar em breve, com a entrega da minha tese em julho, sobre Gestão de Informação na Saúde.
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Tendo em conta que no passado mandato foste Presidente da JE Portugal, cujo cargo é bastante exigente, como é que conseguiste conciliar as tuas obrigações com as responsabilidades académicas, principalmente ao nível da gestão de tempo?
Muita gente diz isto, e as pessoas pensam que é mentira ou cliché, mas não é. Quantas mais coisas temos para fazer, melhor nos organizamos e melhor lidamos com o nosso tempo e com as nossas responsabilidades. Aquilo que eu fiz sempre, não só quando era Presidente da JE, mas também quando era Presidente da minha Júnior Empresa, era definir quais eram as minhas prioridades. Por exemplo “Neste momento, a minha prioridade é este evento da JE, ou vai ser a minha frequência, ou vai ser por a matéria em dia” e eu não definia isto a longo prazo, definia a curto prazo e geria semanalmente ou mesmo quinzenalmente, por ser muito mais fácil. Portanto, definia as minhas prioridades e tentava orientar o meu tempo sempre dessa forma. Fazia a gestão de “Se isto é mais prioritário tem de ter mais horas” e, a partir daí, vamos desdobrar o resto do dia. Uma das coisas mais importantes que eu fazia também era a flexibilidade. Se surgisse um imprevisto, se eu tivesse de alterar algo, e as nossas agendas enquanto Júnior Empresários gerem-se muito com imprevistos e coisas à última da hora, eu tinha sempre uma janela temporal que sabia que ia ser para imprevistos ou coisas que eu teria de gerir no momento. Não diria que tenha um segredo ou que fazia um Excel ou Word, por exemplo. Nunca gostei muito de fazer isso mas geria sempre de acordo com as prioridades e de acordo com o que sabia que seria inflexível numa semana, orientava o meu tempo e deixava parte dele para imprevistos que pudessem surgir.
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Como descreves o teu trajeto no Movimento Júnior?
Se eu tivesse se escolher uma palavra, era “crescimento”, sem dúvida alguma, porque na altura em que eu me juntei ao Movimento Júnior a minha Júnior Empresa era uma Júnior Iniciativa, e eu fui a responsável pela passagem de Júnior Iniciativa a Júnior Empresa. Por isso, quando eu olho para estes três anos de forma cumulativa é uma trajetória super ascendente. Eu sinto que experienciei tudo do Movimento Júnior ao mesmo tempo: desde uma fase mais embrionária como Júnior Iniciativa, à passagem a uma Júnior Empresa e à emoção de descobrir todo um mundo novo, porque é uma realidade muito diferente e há muitas coisas para descobrir. Depois por ser Presidente da JE, o que só por si é uma experiência indescritível. Aquilo que nós aprendemos e todas as situações a que somos expostos, os desafios com que lidamos, os obstáculos, as equipas com que trabalhamos, a realidade de alunos, de pessoas e de experiências que conhecemos é muito, muito gratificante. Portanto, eu diria que foi uma trajetória super ascendente, crescimento máximo. Potencializou todas as minhas capacidades sem dúvida alguma. Foi, no fundo, super enriquecedor.
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Que skills julgas cruciais para este sucesso?
Eu acho e é um pouco por aquilo que toda a gente me conhece, que é a minha capacidade de comunicação. Eu acho que tudo funcionou muito melhor porque eu comunico de uma forma muito clara, não só enquanto falo, mas tento fazer isto também quando estou a ouvir. Por isso quando estou num one on one ou em grupo, tenho muito cuidado com a minha comunicação: na forma como comunico, na forma como ouço os outros, como reconheço as suas necessidades. E não é ser people pleaser, acho que é apenas sermos preocupados. Embora seja importante sermos organizados, analíticos e termos todas estas capacidades mais técnicas, é muito importante estas soft skills e este lado mais humanístico, uma boa capacidade de comunicação, sermos de facto preocupados. Eu diria que estas foram as skills que me fizeram ter um percurso mais fácil e eu diria um bom percurso até hoje. Por isso, eu diria a minha capacidade de comunicação e ser boa ouvinte também.
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Fizeste parte do Parlamento Europeu de Jovens durante cerca de três anos e meio. De que modo é que esta experiência influenciou o teu percurso?
Eu diria que me ensinou a pensar fora da caixa, porque, essencialmente, nós participávamos de formas muito diferentes, tínhamos desafios muito diferentes para fazer. Ás vezes tínhamos reuniões, outras vezes tínhamos comissões em que fazíamos discussões sobre os temas. Mas, basicamente, os nossos desafios principais passavam por termos uma temática relacionada com assuntos europeus. Estas poderiam ser das áreas da economia, comunicação, direito, etc., e depois tínhamos de nos posicionar sobre esse tema, fazendo uma exposição escrita sobre se deveríamos ir numa determinada direção, que leis é que deveriam ser aprovadas, que leis é que não deveriam ser aprovadas. Começávamos sempre os trabalhos em grupo por nos posicionarmos a favor e contra, pelo que eu tive de me encontrar muitas vezes contra coisas que concordava, mas tinha de ver o verso da moeda. Acho, então, que isto me ensinou a saber argumentar tudo de certa forma, porque tinha de conseguir argumentar mesmo acerca de coisas que eu não concordasse, e ensinou-me, de facto, a pensar fora da caixa, a ser uma boa comunicadora também e a organizar melhor o meu raciocínio. Nós tínhamos um curto espaço de tempo para fazer esta exposição, para organizar, para ler, para ver imensos documentos. Moldou-me numa perspectiva mais global. E como depois como trabalhava com pessoas de várias nacionalidades também me abriu um bocadinho os horizontes para o quão diferente culturalmente nós somos e onde é que, mesmo assim, nos encontramos e quais são os nossos pontos em comum.
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Até agora tiveste algum momento decisivo pessoal ou profissional que tenha impactado de alguma forma o teu percurso?
Olhar para trás e pensar qual foi o meu grande momento, não acho que exista um grande momento. Eu gosto de olhar para os momentos de forma mais pequenina e colecioná-los passo a passo. Eu diria que uma coisa importante para mim foi em 2024 no 25 de abril, ser convidada para celebrar com mais 49 jovens. Éramos dos 50 jovens mais influentes do país, portanto, representávamos aqui uma parte da juventude. No meu caso era claramente o associativismo, e foi muito importante não só pelo que o dia representa para o nosso país, mas também pela diversidade de pessoas com quem eu estive e as experiências que consegui trocar. Acho que abriu muito a minha perspetiva sobre o quão focados às vezes somos num tema ou na causa que defendemos, e o quão fácil é aliarmo-nos às outras causas e conseguirmos com a nossa pequena voz, porque eu não considero ter uma presença assim tão influente, causar um grande impacto. Eu diria que esse foi um ponto muito alto, e outro foi o JE Day de 2023. Para quem não sabe, nessa data celebra-se o dia Mundial da Júnior Empresa. Nós juntámos cerca de 300 pessoas em Lisboa, e conseguimos expressar ao máximo o que é ser um Júnior Empresário e uma Júnior Empresa. Conseguimos ter presenças muito mediáticas, e saber que organizámos eu, toda a minha equipa da Direção e os managers, isso num curto espaço de tempo, foi uma grande realização. Fez-me perceber que se eu quiser muito uma coisa e me empenhar, essa coisa vai acontecer. Melhor ou pior, mas vai ser feita.
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Tens alguma história engraçada que gostavas de partilhar com os nossos ouvintes?
Sim, e é diretamente relacionado com o JE Day. O que as pessoas não sabem sobre aquele dia, e acho que nunca revelamos isto ao Movimento Júnior, foi que eu e o Bernardo Abel (o antigo Secretário-Geral da JE Portugal), no dia antes do JE Day fritámos 900 rissóis. Todos os rissóis que estavam à mesa no JE Day, foram fritos por mim e pelo Bernardo até às 6 da manhã, e a meio tivemos que ir a uma bomba de gasolina comprar mais óleo porque tinha acabado. E foi nas nossas casas de Lisboa, visto que nenhum de nós é de Lisboa – éramos só estudantes lá. Não eram propriamente como a casa dos pais onde temos uma fritadeira normal e podíamos fazer as coisas com todas as condições. Era uma frigideira, um tacho e tudo o que conseguimos arranjar, e esses rissóis tinham vindo comigo e com o Bernardo de carro desde Coimbra. Fomos à Makro, enchemos o carro com 900 rissóis e 300 pastéis de nata, fizemos a viagem de Coimbra até Lisboa, e depois em Lisboa passamos uma noite inteira a fritar rissóis.
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No futuro, quando se ouvir falar da Carolina Silva, como queres ser reconhecida?
Essa é uma pergunta difícil. Eu gosto de muitas coisas e tenho interesse em muitas áreas, mas acho que isto se prende muito com aquilo que tenho vindo dizer ao longo da entrevista. O mais importante é fazermos sempre as coisas com uma boa intenção e sermos muito cuidadosos com o outro, termos este sentido de comunidade.
Mesmo que eu não faça algo grandioso como começar a minha start-up ou ser milionária daqui a uns anos, isso para mim não é importante de todo. Algo pelo qual gostava de ser conhecida é: como uma boa amiga; alguém divertida; uma boa pessoa; alguém que se preocupa com os outros e que fez o que pôde com a voz ou visibilidade que tinha para reivindicar mais direitos pelos outros, e no meu caso, pelos estudantes e Júnior Empresários, e fê-lo sempre com uma boa fé. Era isto pelo qual gostava de ser relembrada sinceramente.
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Que mensagem gostarias de deixar aos nossos ouvintes?
Sejam ou não Júnior Empresários, sejam só estudantes: acho que o mais importante é sempre tentarem envolver-se em algo, seja numa Júnior Empresa, Associação de Estudantes ou atividade extracurricular. Considero que só desbloqueamos todas as nossas capacidades e elevamos o nosso potencial ao máximo quando damos um bocadinho mais de nós além do estritamente necessário. A minha mensagem é: descubram aquilo que vocês gostam de fazer, seja isso a vossa paixão ou um hobby. Descubram o que é e deem um bocadinho de tempo a esse passatempo para se tornar parte da vossa rotina; eu acho que é quando nos sentimos mais realizados. Principalmente no meio académico, quando estamos a estudar pode ser difícil porque não adoramos os nossos cursos a 100%. Se fosse há uns anos, gostava que me tivessem dado o conselho para descobrir o que desfrutava e investir mais tempo nisso, pois logo iria ver que seria mais feliz.
